sábado, 20 de maio de 2017

O esporte salvou a minha vida

   
    Falar que praticar esportes faz bem para a saúde é como chover no molhado. Depois de fazer exercícios físicos, o nosso organismo libera algumas substâncias que nos dão aquela sensação de prazer. Ficamos mais relaxados, menos estressados e mais dispostos para enfrentar os problemas do nosso dia a dia cada vez mais estressante, principalmente nas grandes cidades. 
    Por isso não vou me estender sobre os benefícios de se praticar esportes, seja ele qual for. 
    Estava um dia desses em casa, sonhando com a estrada real, quando comecei a pensar sobre como me ajudou o esporte em toda a minha vida. Primeiro na infância, que foi maravilhosa, apesar de alguns pequenos problemas que tinha, acho que já nasci meio maluquinho mesmo. Na década de 70 e no início da de 80 ainda se podia brincar nas ruas aqui de Belo Horizonte e então passava o dia inteiro jogando futebol na rua. O jogo era verdadeiro, a estratégia era simples; marcar mais gols do que o adversário, nada de apertar botão esquerdo do mouse para atirar em ninguém. De tarde, na escola, durante o recreio, jogávamos futebol de tampinha, pois a diretora havia proibido a bola de meia, devido às inúmeras vidraças quebradas por alguns pernas de pau. Juro que nunca cheguei a quebrar uma, sempre tive um bom chute. E, de noite, para aproveitar a escuridão, brincávamos de "pegadô- de- esconde", também conhecido como esconde-esconde. Só que a brincadeira não era na garagem do prédio do vizinho ou em algum quintal Era no quarteirão inteiro! Entrávamos nos prédios, subíamos nos telhados das casas que na época não tinham cercas elétricas. A maioria das casas ainda não tinham muros grandes ou portões elétricos, e também serviam de esconderijo. Era atividade o dia inteiro e a noite também.  E chegava cansado em casa, pronto para mais uma noite de sono. 
    E continuei assim até os dias de hoje. Claro que deixei o esconde-esconde de lado, e hoje sempre procuro jogar o meu futebolzinho  e fazer a minha caminhada, onde quer que esteja. 
    Um dia desses relembrei de algo que está diretamente relacionado ao esporte e que posso dizer que me salvou de uma situação que poderia ser bem complicada. Estava morando nas ruas, devido aos surtos psicóticos que estava tendo com frequência, por volta do ano de 2004. Já sem condições de trabalhar e sem energia para lutar, resolvi desistir de tudo: comprei um colchonete e umas vinte pilhas para o meu radinho. Queria me desligar do mundo e não podia dar ouvido aos meus pensamentos e aquelas vozes. Não tive "coragem" (ou covardia) de tentar o autoextermínio naquela oportunidade e então deitei em uma calçada na rua e fiquei assim por dois dias, durante o final de semana. 
     Na segunda feira houve um reboliço na cidade, apareceu polícia e até ambulância, quando souberam que fiquei ali sem me alimentar (só comi uma coxinha e um refrigerante, que uma pessoa me deu). Estava tomando o meu diazepan praticamente de duas em duas horas, pois sentia que poderia surtar a qualquer momento. Creio que esse fato chamou a atenção de um morador da cidade que resolveu chamar a polícia. Estava deitado no meu colchonete e ouvi o diálogo do policial com uma mulher, que mais tarde fiquei sabendo que era uma assistente social:
    - "Mas ele sempre foi de praticar esportes"... foi o que deu para ouvir. Era a assistente social me defendendo, pois senti que a intenção do policial era investigar um morador de rua que á todo instante estava tomando comprimidos. Depois o policial me cumprimentou, perguntou se eu estava bem e até me pediu desculpas. Horas antes apareceu um outro policial, e começou a gritar o meu nome. Como eu estava ouvindo o meu radinho de pilha, demorei para atender, e ai o homem da lei deu um tapão nas minhas costas. Dei um pulo tão alto que o guarda até se assustou. Não sei como consegui fazer aquilo. Estava deitado de costas, e, num pulo, consegui me virar e fiquei como um gato em posição de alerta. O policial deu uma olhada em mim e perguntou se eu estava bem. Depois se retirou. 
    Isso aconteceu em uma pequena cidade do interior. Provavelmente a assistente social chegou a me ver fazendo as minhas caminhadas pelas ruas daquela cidade. E sempre andava com camisetas esportivas, que, além de serem leves, são bem fáceis de lavar, coisa que detesto fazer. 
     Ou seja, as minhas caminhadas e o futebolzinho que eu jogava me salvaram de uma situação que poderia ser bastante complicada para mim, caso fosse um usuário de alguma droga ilícita, ou mesmo da maconha, que muitos insistem em afirmar que não faz nenhum mal à saúde. Se eu não fosse uma pessoa que tinha prazer em trabalhar e praticar esportes creio que a assistente social não iria ter vontade de me ajudar. Não é preconceito, mas as pessoas ficam um pouco na dúvida ao tentar ajudar uma pessoa que esteja fazendo o uso de drogas. Não tem a certeza de que valerá a pena o esforço gasto. Sei que o vício das drogas é algo sério e as pessoas atingidas não estão satisfeitas com a situação, quando morei nas ruas vi de perto o que o crack pode fazer: já vi catadores de material reciclável gastando todo o dinheiro ganho em um dia para comprar a droga. 
  E, durante os surtos, as atividades físicas que havia praticado em toda a minha vida também me ajudaram. Cheguei a ficar um período perambulando pelas BR’s, sem me alimentar, pois tudo o que comia eu acabava vomitando, pois sempre ouvia alguém dizer que o que eu havia comido estava envenenado. E andava praticamente o dia todo, sem pausa para descanso, pois cheguei a imaginar que haviam dezenas de pessoas no meu encalço para me pegarem e me lincharem. Cheguei a perder cerca de 25kg, e acredito que, se não fosse a minha resistência provavelmente não teria resistido à toda essa prova pela qual passei. 
pedido de ajuda de uma pessoa que passou a ouvir vozes com o uso da maconha...

    O que posso dizer em relação à maconha nesse tempo que escrevo o blog e participo de vários grupos sobre transtorno mental é que ela pode ou não fazer mal ao indivíduo. Creio que tenha algo a ver com a genética da pessoa, ou um outro fator parecido. Talvez a droga seja um gatilho para as psicoses e os transtornos mentais para aquelas pessoas que tenham alguma tendência a desenvolvê-las. Mas como saber distinguir quem tem alguma tendência a desenvolver uma esquizofrenia, por exemplo? Por meio das dúvidas não seria melhor não experimentar? Sempre procuro ajudar as pessoas, seja aqui no blog ou na minha página no facebook E não é raro o relato de pessoas que passaram a desenvolver quadros psicóticos e que até foram diagnosticadas com esquizofrenia paranoide depois que passaram a fazer o uso da maconha. 
    Não exponho as pessoas que conversam comigo em particular aqui no blog, por isso vou apenas postar um print de uma pessoa que conversou comigo no facebook pedindo ajuda e que relatou passar a ter psicoses depois do uso da maconha, "a erva natural que não pode te prejudicar"... (está entre aspas, é uma frase da música de uma banda de rock nacional).
    Como podem ver no relato acima, as vozes aumentam quando a pessoa usa a maconha. Outros já relataram que começaram a ouvi-las depois do uso da erva.  Creio que já devo ter falado sobre isso em uma outra postagem, mas só experimentei maconha três vezes em minha vida, entre 17 e 23 anos de idade. Não senti nada diferente, apenas em uma vez fiquei mais relaxado. Era uma pessoa tranquila e até certo ponto distraída, e não me preocupava com nada a minha volta. Já tinha a verdadeira paz em meu coração. No meu caso foram outros gatilhos que ajudaram a desencadear os surtos psicóticos e a esquizofrenia. 
    Por isso não tenho vergonha de dizer que sou careta e que pretendo continuar a ser. Posso ser chamado de maluco, de doido, mas não sou a ponto de querer estragar os poucos neurônios que ainda me restam né? Então vamos caminhar, chutar, rebater, pular, nadar, enfim, movimentarmos!!!