sábado, 16 de agosto de 2014

Metrofobia

 
     Bem amigos, neste post irei dar mais uma sugestão de "doença" para os renomados "psiquiatras" americanos para incluírem no próximo DSM.
    É a metrofobia, que, como o próprio nome diz, é o medo "infundamentado" ou sem motivos aparentes de se usar este meio de transporte público.
    Eu adquiri mais essa fobia em São Paulo. Na primeira vez que usei o metrô na capital paulista, já fiquei um pouco traumatizado. Estava na estação bresser/mooca, e esperei passar o horário de pico matinal.(entre seis e nove horas, pelo menos era o que eu imaginava). Quando resolvi embarcar, a composição ainda estava lotada, e reparei que as pessoas entravam meio que na base do empurrão mesmo.
    Em Belo Horizonte o metrô também fica lotado no horário de pico, mas nada de empurra-empurra. As pessoas entram, e, aos poucos, bem no jeito mineiro de ser, vão se acomodando na lata de sardinha humana
    Quando o metrô parou na estação do brás, fiquei assustado. Estava de costas para a porta e levei um empurrão daqueles quando os usuários entraram. Comecei a ficar estressado, mas nada de mais grave. Descendo na sé, o susto foi bem maior. Parei na plataforma para olhar as placas, a fim de encontrar a saída, e levei mais alguns esbarrões. Era como se fosse o estouro da boiada: centenas de pessoas apressadas para não chegarem atrasadas em seus respectivos empregos. Informação então, nem pensar. Somente com os funcionários da CPTM.

    A partir desse dia já desanimei um pouco de conhecer a cidade e seus atrativos culturais. Passei a ficar retirado em parques e bibliotecas públicas.
    E esse medo não é exclusividade minha. Acabou virando uma paranoia coletiva, por causa dos assaltos e encoxadores de mulheres, além, é claro, da confusão e do empurra-empurra. No Rio de Janeiro creio que existam vagões exclusivos para as mulheres.
    As feministas chegaram a tentar criar um movimento ,convocando todas as paulistas a andarem com alfinetes, para espertar os espertalhões. Uma advogada que utiliza o metrô com frequência carrega em sua bolsa um spray de pimenta.
    Fico um pouco temeroso com essa paranoia toda. Não sou um encoxador de mulheres. Mas, e quando o metrô fica superlotado e a gente fica espremido? E, se, bem em nossa frente está uma linda e sensual mulher? Não sou um aproveitador e não gosto deste tipo de situação, mas eu sou homem e a carne é fraca né?
     Também por esse motivo evito o metrô, principalmente a linha vermelha, que é a que fica mais lotada. Quando uso, caso não consiga ficar sentado, procuro ficar no cantinho, próximo a porta. Fico com receio de que uma mulher chegue a pensar que eu seja um encoxador.
    Ainda tem a paranoia dos assaltos. Outro dia esbarrei a mochila do notebook no traseiro de um cara, que logo passou a mão nos bolsos para conferir se não foi assaltado.
    E essa paranoia coletiva foi se passando aos poucos para a minha já paranoica mente. Deixei de frequentar certos lugares por ser o metrô o meio mais viável de transporte. Até  que um dia "a coisa" estourou.
    Era um domingo(10/08}. Estava na biblioteca do parque da juventude, onde se situava o presídio do carandiru. O ônibus 278A, que me levaria de volta ao Tatuapé, estava demorando muito. Então resolvi arriscar o metrô. A linha azul, até à praça da sé, estava tranquila. Mas o mesmo não podia se dizer da linha vermelha, sentido zona leste. Não estava superlotada como nos dias de semana, mas havia bastante gente em pé. Novamente os esbarrões. Não eram muitos, mas me incomodavam e muito. Para piorar, o metrô ficou por cerca de cinco minutos parado. Ninguém falava nada nos auto falantes da composição, para, ao menos, explicar o motivo de tão longa parada.
    Aquela situação foi começando a me deixar um pouco irritado. Estava sem o "pan nosso de cada dia". Queria que aparecesse um funcionário da CPTM para tirar satisfações, afinal o preço da passagem é um pouco salgado: três reais.
    A irritação virou raiva e me imaginei pixando o metrô com aquelas canetas para retroprojetores. Depois de algum tempo, em minha mente já estava quebrando o vidro das janelas e saia correndo pela linha. Mas eu não sou explosivo, e esses pensamentos são raros, e mais raramente ainda se transformam em realidade. O pico de agressividade minha durante um surto foi tentar quebrar o cabo de uma vassoura em uma pilastra, mas nem consegui, de tão fraco que estava naquele momento. Creio que por esse motivo e por morar sozinho nunca cheguei a ser internado.
    Depois de uns cinco minutos o metrô voltou a funcionar. Não sei se tenho agorafobia,  ou se é em razão da esquizofrenia mesmo, mas aquela situação estava me sufocando. Não me sinto bem em meio de multidões, tanto em lugares fechados como abertos.
    Já na saída da estação, comecei a falar alguns palavrões "ao ar", mas não eram direcionados à uma pessoa em específico. Tenho consciência de que ninguém é culpado pelo fato de eu ter esse transtorno. Mas, ao ver uma mulher segurando a sua bolsa pela alça, pensei que era medo de ser assaltada por mim e fui um pouco áspero com ela. Logo depois peguei um cartaz, que estava em um mural da estação, e o rasguei. Acho que era propaganda de um curso de inglês. É errado isso o que fiz, eu sei. Mas sei também que tinha que extravasar, que ficar guardando esses sentimentos não faz bem para ninguém. Alguns povos, como os gregos, costumam quebrar pratos para espantar os maus espíritos. Rasgar cartazes é mais econômico e menos barulhento...
   - " O caso é grave"...- Acabei chegando à essa conclusão. "Esse não sou eu, não sou de falar palavrões e sair por ai rasgando cartazes". - pensei.
    Já estava na hora de voltar para "Beuzonte" e tentar recuperar um pouco da minha sanidade. Se ficasse mais um tempo em Sampa, poderia pirar de vez. A minha mania de perseguição, associada à um provável quadro de síndrome do estrangeiro estava tornando insustentável a minha permanência na capital paulista.
    Certa vez um pseudo psicólogo chegou a questionar se tenho esquizofrenia, afirmando que uso um personagem. Eu não faço isso, e se fosse um bom ator até para enganar os peritos do INSS, provavelmente estaria trabalhando na TV. Esse cara também disse que é impossível um portador se auto diagnosticar e fazer um blog, por exemplo.
  Bem, começar, eu não me auto diagnostiquei. Apenas resolvi estudar o assunto depois que tive os surtos e fui diagnosticado por um psiquiatra. Então, depois de uma longa e profunda análise de minha vida constatei que o diagnóstico estava correto. Para se fazer isso, não é necessário fazer faculdade, doutorado, mestrado ou sei lá mais o que. É preciso algo que pode ser um pouco mais complicado, que é estudar  e conhecer a si mesmo. Será que esse psicólogo já leu alguma vez em sua vida um pouco de Sócrates?
este livro me ajudou e muito a entender um pouco a loucura
     Se o próprio Simão Bacamarte, na célebre obra O Alienista, chegou à conclusão de que o único mentecapto de Itaguaí era ele próprio, por que eu, apesar de não ser um renomado psiquiatra, não posso chegar à conclusão, depois de muitos estudos, que tenho os meus problemas e que eles foram classificados como F20 pela psiquiatria contemporânea?
    Eu posso estudar e tirar as minhas próprias conclusões. Não sou totalmente contra a psiquiatria, mas não acho que ela seja a dona da verdade. Houve uma época em que alguns alienistas queriam até proibir o casamento entre pessoas que eles considerassem loucos...
    O título do post não é uma simples ironia, pois, hoje em dia, como estão medicalizando os sentimentos, até que seria coerente o termo metrofobia, já que está todo mundo doente, de acordo com o último DSM.
Quem frequenta muito os shoppings é doente, quem não sai da academia de musculação também é. Você que não aguenta ficar sem um cafezinho também pode estar doente, se ultrapassar determinada dose diária. Queriam até classificar quem usa a internet em excesso, mas desta vez os caras usaram o bom senso. Afinal, quem fica em demasia em frente de um PC provavelmente deve ter algum tipo de dificuldade em se relacionar com as pessoas. Não é simples esta questão, mas é bem por ai o caminho.



 Tem dias que a situação fica tensa no metrô, e não é só eu que perde a paciência...




9 comentários:

  1. Seu blog é incrível! Como estudante de Psicologia, acho fundamental ver as coisas pelos olhos do sujeito. Obrigada por me proporcionar isso.

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    1. Obrigado, realmente achava que faltava alguém que tem o transtorno falar sobre o assunto. Quando pesquisava sobre o assunto, sempre me deparava com sites de psiquiatras, e às vezes achava um pouco acadêmica a linguagem usada. A esquizofrenia por si só é complicada demais.

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  2. Putz..vc vai querer me bater... to comentando um monte de post..rs desculpa não quero ser enconveniente... mas tenho que dizer que fiquei muuito feliz :D que vc não parou de postar...aqui eu me identifico e até me animo, pq vivo praticamente a mesma situação que a sua e vejo como vc encara tudo com muito bom humor... pode acreditar que tem muito mais pessoas que te apoiam e sabem a pessoa maravilhosa que vc é do que essas amebas que ficam te criticando... acreditando no que esse charlatão diz... pq não é pra todo mundo dar a cara a tapa, assumir e ainda ajudar um monte de gente..
    Vc é guerreiro cara...

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    1. Não vou querer te bater não, muito pelo contrario, são os leitores, como você, é que me fazem continuar a batalha. Às vezes somos ridicularizados, já ouvi pessoas comentando que quero aparecer, etc. Mas as avaliações positivas são em maior número e isso me dar forças para continuar. Pode continuar a comentar a vontade, sempre que tiver tempo responderei. É um prazer fazer isso.

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    2. Olá,
      Sou estudante de psicologia e estou fazendo uma pesquisa sobre o seu transtorno pra aula de processos cognitivos, gostaria de saber se você responderia algumas perguntas pra minha pesquisa, tenho que apresenta esse trabalho e achei seu blog seus vídeos e os textos que você escreve tudo muito interessante.
      Você escreve muito bem.
      Se quiser me mande um email e conversamos melhor.

      amandha.cabot@hotmail.com

      Abraços

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  3. E ai julio,

    seus posts são incríveis, não deixe que o sistema te cale!

    e as viagens?
    Abs
    marioluc

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    1. Olá! Verdade, por um tempo andei desanimado de postar, fiquei chateado por alguns boatos feitos por um psicólogo e o pessoal de seu grupo. Mas hoje em dia aprendi a não ligar tanto para esse tipo de coisa, e vou continuar postando. Quanto as viagens, estou dando um tempo, depois da última viagem pelo litoral de São Paulo não fiz mais nenhuma. A próxima vai ser o caminho de Diamantina da estrada real, mas primeiro estou juntando uma grana para comprar uma tv e um home theather e depois alugar um quartinho. Mas vou continuar com as andanças, você sabe como é bom andar pelas estradas de terra de Minas. E você, andou fazendo mais viagens?

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  4. Olá,hoje o caso é minha sogra toma 3 injeção de Haldol e bipirideno.
    Ela é super agitada,fuma de mais come muito, fala 24 horas sem parar até para tossir ela fala, fala muito mesmo nem respira para falar.
    Ela reclama que a injeção a machuca e sai até pus.
    Levam ela na psiquiatra e a consulta é de 5 minutos só para conseguir outra receita de Haldol.

    Estranho não é?

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    1. Olá
      Infelizmente esse atendimento ultra rápido não é nada estranho em nosso país.
      O descaso é muito grande e até quando a pessoa vai consultar pela primeira vez em alguns lugares o atendimento é rápido também. A falta de atenção e diálogo na minha humilde opinião é um dos principais responsáveis pelo pouco sucesso no tratamento dos transtornos mentais aqui no Brasil.
      Claro que tem exceções, fui muito bem atendido na cidade de Ipatinga-MG e no hospital Raul Soares, aqui em BH.
      Tente reclamar com a secretária de saúde de sua cidade ou então procure um outro local que faça esse tipo de atendimento, já fui atendido também em 5 minutos e esse tempo não é suficiente para um diálogo sobre o andamento do caso.
      Obrigado pela visita ao blog e força na luta, e se quiser denunciar por aqui o local onde sua sogra é atendida sinta-se à vontade.

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