segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Cem mil visualizações, Dicas para mochileiros e pesquisa sobre ronco


Dicas de viagens para mochileiros de primeira viagem
    Se você tem disposição para sair viajando por ai, com uma mochila e uma barraca nas costas, ai vão algumas dicas de quem tem um pouco de experiência nesta prática. Também sou um principiante, mas já aprendi bastante coisa nestas minhas andanças. . Para saber como foram minhas viagens é só clicar nos links abaixo:
-Caminho do Padre Anchieta
Estrada Real: caminho velho
Estrada Real: caminho de Sabarabuçu
    A próxima viagem farei no início de janeiro, pelo litoral de São Paulo. Esse caminho se caminho se chama passos dos Jesuítas, e tem um total de 370km.
rota do caminho dos Jesuítas, no litoral de São Paulo


1- Vestimentas
    Não vá viajar com um short da adidas ou com o tênis nike novinho que você acabou de ganhar. Dê preferência a roupas mais usadas, e, se tiverem um rasgadinho, melhor ainda. Caso um meliante o interpele pelo caminho, você poderá dialogar com ele, mostrando que suas atuais condições financeiras não são das mais favoráveis. Provavelmente ele irá se compadecer de sua situação e é até capaz que ele lhe dê algum trocado.

2-mochila

    Não dá para economizar na hora de comprar uma mochila. A primeira que adquiri foi uma do Paraguai e durou menos de dez dias, a costura da alça não suportou o peso. Imaginem se a mochila arrebenta no meio do mato? Vai ter que rezar para aparecer uma carona de um jegue  ou então carregá-la no ombro por um bom período. A mochila trilhas e rumos tem um ótimo custo x benefício. Existem mochilas mais caras do que a da trilhas, ai vai de acordo com a condição financeira de cada um.

3-Peso da mochila
na viagem à Paraty não respeitei o limite da mochila e a costura da alça começou a se desfazer no meio do caminho

    Por falar em peso, é muito importante respeitarmos o limite da mochila. O cálculo do peso é bem simples: basta dividir a litragem da mochila por três. Ex: uma mochila de 50L suportará mais ou menos 16,5kg, já que 50:3= 16.6. Eu carrego um dois quilos a menos, por medida de segurança. E o mais importante em relação ao peso é o nosso próprio limite, é claro. Quantos quilos iremos conseguir carregar na mochila? Quanto pesa a barraca? A manta? As roupas? Também existe um cálculo para isso, de acordo com o peso da própria pessoa, mas sinceramente acho esse cálculo perigoso. Isso vai de acordo com cada pessoa, a idade, as condições de saúde, o percurso, etc. Então só a prática irá resolver esta questão. Vale lembrar que, se a mochila está pesando 10kg na parte da manhã em uma viagem, já na parte da tarde a sensação pode ser de que estamos carregando o dobro, dependendo das condições  climáticas e do percurso também(se tem muitas subidas, etc).

4-Qual mochila escolher?

    Parece que não existe nenhuma complicação na hora de escolher uma mochila, mas não é bem assim. Assim como uma roupa, temos que nos sentir bem ao usar este item, que praticamente fará parte de nosso corpo durante a viagem. Então, na hora de comprar peça ao vendedor para experimentá-la, colocando algum peso dentro dela. Dê uma volta na loja e veja se você está se sentindo confortável. Claro que ninguém vai estar 100% confortável carregando peso, mas, com a ajuda da regulagem das alças e da barrigueira, dá para melhorar um pouco a situação. Qualquer coisa peça orientação ao vendedor.

5-Água

    Nas duas primeiras viagens, carreguei a água dentro da mochila, em duas garrafas de água mineral de 500ml. Em dias quentes, na parte da tarde, só conseguia beber dessa água se não houvesse outra alternativa. Se a mochila não tem na parte lateral um lugar para abrigar as garrafinhas, o ideal é investir em um cantil de 900ml, que vem com uma proteção que ajuda a conservar a temperatura da água. E ainda ela tem um lance que dá para carregar o cantil na barrigueira da mochila, tirando assim um quilo de suas costas, já que um litro de água pesa aproximadamente um quilo. Existe um produto chamado clor-in, que é vendido em lojas que vendem barracas e que serve para melhorar as condições da água em relação aos micróbios.

6- Onde montar a barraca?
fujam das formigas "cortadeiras", elas podem causar um enorme estrago em sua barraca

    Essa é uma questão complicada. Já passei por várias situações inusitadas nessas minhas andanças por causa da minha humilde residência. Se você gosta de acampar no mato e tem uma boa barraca, não tem problema nenhum, com exceção da chuva e das formigas cortadeiras, que parecem ser carnívoras e adorarem detonar uma barraca.
    Mas e se a viagem for em cidades coladas uma nas outras? E a questão da violência?
   Nas minhas andanças, várias vezes montei minha barraca no perímetro urbano das cidades. Isto fez com que eu conhecesse várias pessoas bacanas por ai. Mas também podemos correr certo perigo, pois convenhamos que não é algo comum uma barraca montada em uma cidade, ainda mais se for uma cidade pacata e pequena. Já chamaram a polícia para mim, sem ao menos ter feito nada. Mas não tenho nada a reclamar das abordagens da polícia aqui de Minas Gerais. Depois de fazerem as perguntas de praxe e olharem a documentação, eles sempre conversaram comigo, me dando dicas do caminho a ser seguido.
    Aconselho a montarem a barraca em locais onde não irá atrapalhar a passagem de pedestres. Também é sempre bom bater um papo com os seus "vizinhos", explicando o motivo de estar naquele local. Fiz boas amizades, além de ganhar lanches, bolo, feijoada, um cafezinho, etc.

7-Calçado

     Ai vai do gosto de cada um, tirando o sapato, é claro. Existem botas específicas para trilhas e caminhadas, que evitam torções e derrapagens. Chegam a custar 300 reais ou até mais. Eu, particularmente, prefiro um bom tênis macio e usado, com meias próprias para caminhadas longas. Essas meias são mais grossas e têm menos algodão em sua composição, diminuindo o suor e as chances de bolhas indesejáveis nos pés. Sem contar o chulé né? Eu uso o talco granado no dia a dia para diminuir o mau cheiro, mas, para caminhadas longas isso não é bom, pois esse produto resseca o pé, o que faz com que o mesmo fique ardendo nas viagens. Na próxima  irei experimentar outra marca.

8-Barraca
evite barracas simples
    Por experiência própria, recomendo que não comprem as barracas sem coberturas. Elas não suportam nem uma chuva leve, ficando toda encharcada. Compre barracas com a "casinha" e a cobertura separadas. Uma dica: Não deixa a cobertura na parte de cima encostar na barraca, essa área poderá ficar úmida e até deixar cair alguns pingos em caso de uma forte chuva. Uma solução para isso são os balões de festa. Isso mesmo! Encha os balões(não totalmente)  e coloque-os na parte de cima, entre a casinha e a cobertura. Tem que ser balão de festa hein galera! Não vale ir ao posto de saúde e sair com as duas mãos cheias de camisinhas!

9- Remédios
esses recipientes são ótimos para se armazenar remédios
    Eu sou meio suspeito, como um hipocondríaco, a falar sobre este assunto, mas vou dar o meu pitaco mesmo assim. Leve o essencial. Anti-inflamatório, paracetamol(para dores em geral). Aconselho a comprar a nimesulida, que é um ótimo anti-inflamatório, antes de viajar, pois esse medicamento é encontrado pelo preço de 4 reais em algumas farmácias. Nas cidades do interior, já encontrei a nimesulida por doze reais. E é óbvio que o vendedor não irá abaixar o preço, ainda mais sabendo que você está machucado e precisando muito desse medicamento. Eu também levo o pan nosso de cada dia , já que sou viciado nesse ansiolítico. Costumo guardar esses medicamentos em recipientes de remédios que são usados em conta gotas. Jogo o conteúdo fora e faço uma boa lavagem no recipiente, deixando secar bastante no sol. Se os medicamentos forem parecidos  e você não estiver com a memória boa, compre uma caneta para retroprojetor e escreva o nome do medicamento na embalagem.

10- Informe-se sobre os lugares que irá visitar

     Procure se informar sobre os lugares que irá percorrer, para saber sobre as condições climáticas, pontos turísticos, etc. Assim você não irá passar o frio que passei no sul de Minas Gerais, por não ter comprado um saco de dormir e pensar que não iria fazer frio nessa região fora do inverno. Procure se informar se o local não é perigoso, se não tem muitos assaltos, etc. Não recomendo mulheres a viajarem sozinhas, por questões de segurança. No facebook encontrei uma que  viaja de carona pelo Brasil inteiro, ela realmente é muito corajosa, mas também é fácil arrumar carona né? Ela tem uns 25 anos, é bunitinha... Já arrumou até carona com a polícia. Eu não sou uma simpatia em pessoa, sou caladão, sério, cabeludo, barba por fazer às vezes, os traços meios rudes, ai fica difícil arrumar carona né? Vale a pena dar uma olhada na página dela no facebook:
https://www.facebook.com/100Dinheiro100FrescuraE1000Destinos


11- Alimentação

    Já me recomendaram a carregar uma panela e comprar miojo, mas, na minha opinião, isso não é muito legal. Se temos que nos alimentar bem no dia a dia, imagine caminhando o dia inteiro com um peso nas costas. Devemos manter uma rotina dentro das possibilidades, tomando café da manhã e almoçando nos horários certos. No almoço não pode faltar o tradicional arroz com feijão e carne, além de uma salada. Costumo carregar granola também. Como muita banana, por causa do potássio, que ajuda a prevenir cãibras. Laranja, mamão, maçã também é bom comer.

12- Pedra Hume
    Essa é uma dica para quem é desastrado como eu e se machucou e quer que o ferimento cicatrize rápido. Outro dia, ao ver uma bola rolando no parque, o fominha aqui correu atrás dela igual cachorro, mas, só que, na hora de chutar para devolvê-la para a galera, errei o alvo e chutei mais chão do que bola. Resultado: quase arranquei a tampa do dedão do pé. Um colega meu do abrigo me indicou a pedra hume. Não levei muita fé naquele troço parecendo água, mas, acreditem, em quatro dias o ferimento estava seco. Claro que isto não substitui o bom e velho merthiolate, mas ajuda a secar o ferimento. 
 

 Cem mil visualizações do blog

    Pessoal, neste fim de semana o blog atingiu cem mil visualizações. Não tenho como agradecer, palavras seriam muto pouco para isso. Esse blog é para mim uma terapia, além de me fazer me sentir útil em alguma coisa. Além dos amigos que tenho por aqui.
    Pode parecer pouco, mas cem mil é um número expressivo para quem está falando de um assunto que não é assim tão atrativo. Só o nome esquizofrenia causa espanto nos leigos no assunto. Além de tudo, não sou um profissional da área de saúde mental, vários grupos do facebook nem publicam os meus posts.  Não me sinto "o cara", mas fico muito feliz com este número, pois, há doze anos atrás, no meu primeiro surto, não fui dessa para melhor por questão de dias, por não me alimentar, tentando fugir dos inimigos que estavam em  minha mente e das vozes. Cheguei a perder 25kg, mas, como já disse várias vezes, fui muito ajudado por várias pessoas e aqui estou escrevendo este blog. Ainda conta o fato de que, até aos 40 anos, eu nunca havia encostado um dedo em um teclado de computador. Pensava que iria  desconfigurar o PC todo ao encostar em uma tecla errada. Resolvi fazer então o curso de informática, um pouco receoso, pois na sala só havia meninas e caras de 20 anos. O esquizo aqui pensou que iria  passar vergonha, mas o que aconteceu foi justamente o contrário, pois, graças a muito esforço, consegui assimilar as matérias e tirei boas notas, tanto que, no dia das provas, os outros alunos até brigavam para sentarem ao meu lado para pegarem uma colinha....
-obs: gostaria de dizer que o meu livro, Mente Dividida, Memórias de um esquizofrênico, ainda está sendo vendido, pelo preço de dez reais, no formato PDF, no momento não estou podendo imprimir e encaderná-lo. Para adquiri-lo é só seguir as instruções no lado direito da página.



Pesquisa sobre ronco




     Segundo o IPE(instituto de pesquisas esquizofrênicas) 20% da população masculina brasileira ronca. Pude constatar isso após cinco meses dormindo em um abrigo aqui em Belo Horizonte.
    Cada quarto possui dez beliches, comportando assim vinte pessoas. Toda noite sempre tinha que ter um cara que roncasse, isso quando não tinha a infelicidade de dormir em um quarto com dois roncadores. Raros foram as noites em que não havia um roncador. Já perceberam que esses caras pegam no sono com uma facilidade enorme? Era só apagar a luz que o temível ruído começava. Alguns roncavam tão alto que a galera não aguentava e dava um cutucão para o cara acordar. Mas não adiantava, esses caras pegam no sono muito rápido. Na minha opinião, o abrigo tinha que cadastrar todos os roncadores e os colocarem  no mesmo quarto, que teria que ter um isolamento acústico especial, para não atrapalhar os quartos vizinhos. Imagine vinte elementos roncando em uníssono? Ouçam no vídeo acima que ronco tenebroso de um cara que gravei enquanto ele dormia. Não consegui dormir naquela noite.


   No mais, um agradecimento especial a todos os leitores e um feliz ano novo, com muita saúde e paz, que é o mais importante.

















sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Nas ruas: comparações


  Não é a primeira vez que estou por ai nas ruas. Já estive nesta situação anteriormente. Foi no ano de 2002, em razão do meu primeiro surto psicótico. Fiquei nas ruas por um período de cinco meses, perambulando pelas ruas da grande BH, até me recuperar por completo das alucinações brabas que tive. Se não fosse a ajuda de muitas pessoas provavelmente não estaria aqui escrevendo este post. Poderia ser mais um morador de rua, sem nenhuma renda e nenhuma perspectiva de vida.
    Mas hoje em dia, depois de quase dez meses de andanças, posso dizer que muita coisa mudou em relação aos moradores de rua.
    Naquela época fui muito ajudado por diversas pessoas, e, na minha opinião, esse foi o principal remédio para que eu me livrasse de um surto tão intenso e tenebroso. Na minha fuga desesperada para fugir dos inimigos que só estavam em minha mente cheguei a perder 25kg. Não adiantava  mudar de cidade, andar pela BR ou me esconder no mato: aonde quer que eu fosse, as vozes ameaçadoras me seguiam.
    Mas a solidariedade das pessoas conseguiu reverter o quadro psicótico. Pouco a pouco s inimigos fugiram de minha mente e consegui recuperar cerca de 20kg em apenas um mês. Houve noites em que tive que recusar alimento, pois a minha fome estava completamente saciada.
   E a ajuda não era somente material: várias pessoas paravam para conversar comigo e me dar uma força. Confesso que não iria conseguir sair daquela situação se não fosse esse auxílio. Fica até complicado citar essas pessoas, pois foram muitas e eu poderia estar cometendo alguma injustiça.

    Mas hoje em dia muita coisa mudou: o crack, que antes era consumido por pessoas menos favorecidas economicamente, já está se alastrando pelas pequenas cidades do interior do Brasil e já é usado por pessoas que possuem um poder aquisitivo mais elevado. Estive há pouco tempo no pequeno município de Raposos-MG e, um morador da cidade comentou que hoje em dia já não deixa a porta de casa aberta como fazia antes.
    O problema está tão sério que foi preciso implantar CAPS-AD em várias cidades do país. A internação compulsória agora é lei. Os adultos estão com medo até de crianças.
    Principalmente por causa dessa droga as pessoas já não estão tão dispostas a ajudarem um morador de rua. Antes se evitava dar dinheiro aos moradores com receio de que eles fossem comprar cachaça. Hoje em dia a recusa é por causa do crack.  A cachaça, pelo que pude perceber, não traz tantos problemas em relação à roubos, já que é uma droga barata. Alguns moradores de rua dizem que algumas cachaças em certos bares são mais baratas por conterem misturas. Já o crack é uma droga barata que acaba saindo cara, pois o "barato" dessa droga dura apenas alguns segundos, pelo que pude saber através de alguns moradores de rua.
    Outro dia vi uma cena muito triste: uma garota aparentando uns 21 anos, de classe média, chegou a me perguntar se eu sabia onde ficava um ponto de venda de crack. Ela estava bem vestida e trazia uma caixa de sapato cheia de perfumes caros, para trocar pela droga. Com certeza já deve ter se desfeito de outros pertences e de seu dinheiro para consumir essa pedra maldita.
    Conheço um cara lá no abrigo, que veio do nordeste. Ele é gente boa, tem uns 50 anos e trabalha o dia inteiro descarregando andaimes. Ele é magrinho, baixinho, mas é bom de serviço, pois está neste trampo do andaime por mais de um mês. O máximo que consegui ficar foi dois dias, e o que ganhei, além de oitenta reais, foram dores por todo o corpo. Ele me disse que é usuário de crack. Um outro dia chegou a me pedir emprestado um real, ou seja, provavelmente o dinheiro do seu suado suor foi usado para apenas sustentar esse vício.
    O problema maior acontece quando já não conseguem trabalhar e partem para o roubo. Claro que tem caras que podem trabalhar para sustentar o vício, mas não fazem isso por uma questão de caráter mesmo, preferindo roubar o dinheiro de um trabalhador. As mulheres são consideradas boas freguesas pelos traficantes, já que a maioria chega a vender o corpo para fazer o pagamento da droga à vista.
   O crack traz paranoias  tanto para quem usa como para quem não usa. Hoje em dia as mulheres andam apressadas pelas ruas do centro de Belo Horizonte, sempre com uma das mãos segurando firmemente a alça de suas bolsas. Qualquer pessoa que não esteja muito bem vestida pode ser um possível usuário desesperado pelo crack. Essa paranoia para mim é o principal motivo pela rejeição pelos moradores de rua aumentar mais ainda. Claro que existem pessoas caridosas que ainda ajudam os mais necessitados: espíritas, evangélicos, católicos saem pela cidade distribuindo comida, principalmente à noite.

    Fiz estes comentários não como uma reclamação, pois eu mesmo tenho um pouco dessa paranoia, apesar de não andar com muita grana no bolso. Este post é apenas uma observação, pois tenho a minha aposentadoria e estou nesta situação por que acho complicado uma pessoa gastar metade do que ganha para pagar um aluguel de um quarto. Se quiser quarto barato, é só ir em lugares onde o tráfico de drogas impera. Mas eu só quero paz e tranquilidade. Prefiro ficar andando por ai do que morar em lugares complicados. Não estou aqui para que as pessoas me ajudem nas ruas, não é isso. É apenas o que eu vejo pelas ruas, uma droga que pode mudar o comportamento de uma sociedade inteira. Só gostaria de não ser julgado por andar de mochila nas costas e morar em uma barraca. Os piores bandidos andam por ai de helicóptero e estão em em suas mansões.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Falta pouco...

    Pessoal, falta pouco para que o blog chegue a marca de 100.000 visualizações! Nunca esperava chegar a essa marca. Nunca me importei com números, a minha intenção ao criar o blog era e ainda é tentar ajudar a desmistificar a esquizofrenia. Então, nesse caso, os números têm uma certa importância, já que quanto o maior número de visualizações, maior o número de pessoas informadas sobre a patologia. Não acho legal colocar um contador de visitas no blog, isso pode ser fraudado, já que a maioria dos contadores dão a opção de não começar do zero, ou seja, a pessoa pode colocar o número que quiser de visualizações.
    Obrigado a todos os leitores do blog, tanto as pessoas que têm alguma relação com a esquizofrenia, como as que apenas acessam para se informar um pouco sobre a patologia. Um agradecimento também aqueles que gostam de ver o relato de minhas viagens. Enfim, um obrigado a todos de coração mesmo.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Quetiapina


quetiapina

  Relato de um paciente que usou a quetiapina


 Já fazem cinco meses que estou no abrigo. Fora me dado um prazo inicial de permanência de dois meses. A assistente social não me havia procurado até então, e fiquei até agora quietinho no meu canto, sem fazer nenhum furdunço para não chamar a atenção.
    Mas hoje lá estava ela, sentada na recepção, no horário de entrada, que é entre cinco e oito horas da noite.
    - E ai Júlio, já foi no CERSAM?
    - Eu não, sei que se eu for lá irão me dar haldol...
    -Mas para continuar aqui você tem que estar frequentando o CERSAM.- ela retrucou.
    - Tá legal, eu vou lá sim, mas só vou tomar medicamento se for a quetiapina, pois as pessoas falam muito bem dele.
    Conversamos mais um pouco em sua sala. Ela disse que eu poderia surtar e tals, mas eu disse que existem pessoas bem mais loucas do que eu e que estão andando por ai, e que entrar para o abrigo me fez sentir a pessoa mais normal do mundo. Ela fez o encaminhamento e me deu quatro vales-transporte.
     No dia seguinte, às seis e meia da manhã já estava sentado em frente ao CERSAM nordeste, meio sem esperanças de conseguir a quetiapina, que custa mais ou menos uns oitenta reais.
    Já havia experimentado o melleril, o haldol, tanto em comprimido como o injetável, stelazine, olazanpina, cropormazina, olazanpina, risperidona e mais uns dois que nem me lembro o nome.
    Tirando a cropormazina, não tenho boas lembranças dessas minhas tentativas com os medicamentos. O haldol me causou acatisia e rigidez muscular. O stelazine idem. A risperidona me deixou muito dopado e lenta, além de me dar uma fome danada. Mas nada foi pior do que a minha experiência com a olazanpina, que custa cerca de 700 reais a caixa.
    É uma burocracia danada conseguir este medicamento pelo governo, mas, depois de um mês, chegou para mim uma caixa da olanzanpina. Estava esperançoso, pois, pelo preço, pensei que iria me fazer muito bem, e de que se tratava de um medicamento totalmente diferente dos que eu já havia experimentado. Mas o que me aconteceu foi bastante desolador. Apenas um comprimido me fez ficar deitado dois dias consecutivos. A única coisa que consegui fazer nesse período foi me arrastar até a padaria e comprar um bolo e um "lidileite"


    Voltando ao assunto do post, fui muito bem atendido no CERSAM nordeste, para minha surpresa. Uma longa entrevista com dois caras no acolhimento e duas consultas marcadas: uma com a psicóloga Vera e a outra com a psiquiatra Nathália(lembrei dos nomes por que está escrito no receituário).
    A conversa com a psicóloga foi mais ou menos parecida com a do acolhimento. É complicado e um pouco triste ficar relembrando tudo aquilo, mas no geral me senti bem, é sempre bom conversar com alguém. O atendimento também foi muito bom, acho que fiquei meia hora nesta consulta.
    O pessoal lá é tão gentil que conseguiram adiantar a consulta com a psiquiatra e no mesmo dia já sai com quatro caixas de amostras grátis de quetiapina. A psiquiatra também foi super atenciosa, não tenho do que reclamar. A diferença é muito grande em relação ao SUS em outras cidades.
    A Nathália me receitou dois comprimidos de 25mg nos três primeiros dias, aumentando a dose para 100mg no quarto dia. Como as minhas experiências com os outros medicamentos não foram muito agradáveis, resolvi tomar só um comprimido de noite. Estava na cama conversando com os vizinhos do quarto quando o sono foi aos poucos tomando conta de mim. É só isso o que me lembro. Tive uma boa noite de sono e não acordei nenhuma vez de madrugada, mesmo com a presença do galo do vizinho, que todo noite, pontualmente às três horas começa a sua cantoria. O canto é sempre o mesmo, curto e repetitivo. Muitos caras lá do abrigo já chegaram a perguntar se aquela cantoria era uma gravação.
     Dormir eu conseguir, mas o problema foi acordar.
    -Alvorada! Bom dia meu povo!- pontualmente às cinco da manhã, o monitor anunciou o novo dia, que ainda estava escuro, por causa do horário de verão.
    A sensação era de ressaca, e das brabas. Cuidadosamente e vagarosamente desci do beliche. Não tive ânimo para tomar o banho matinal. A única coisa que queria era dormir de novo. Tomei rapidamente o café e foi para o parque tirar um cochilo, para passar a ressaca, que só foi acabar por volta das dez horas da manhã. O efeito da quetiapina só foi sumir mesmo por completo por volta das quatro horas.
    - Amanhã vai ser melhor, pois irei me acostumar com o medicamento aos poucos. - pensei.
    Mas não foi bem isso o que aconteceu. O segundo dia foi mais complicado ainda para me levantar e acabei tirando um cochilo no passeio mesmo, perto do albergue. A ressaca durou o dia inteiro, mas tenho que dizer que a minha mente ficou mais tranquila, apesar de não tomar a dosagem recomendada. A presença de estranhos já não me incomodava tanto assim, estava menos temeroso, as paranoias não me afetavam tanto assim.
    - Que dia irão inventar um medicamento que atue só na mente sem prejudicar o físico? - me lamentei, pois estava me sentindo bem emocionalmente.
    No terceiro dia resolvi não tomar o medicamento, mas fiquei ainda com um pouco do efeito dele. Estava super relax, o dia inteiro deitado no banco do parque, contemplando a natureza, sem dar importância a nada. Naquele estado não iria viajar para São Paulo, parecia que eu estava sob o efeito da maconha, apesar de não estar rindo à toa(já experimentei umas três vezes, mas não uso mais). Estava tudo bem para mim naquele terceiro dia, apesar de um pouco lento.
     Posso dizer que a quetiapina estava me fazendo um bem danado, tenho que reconhecer, não sou radical na minha opinião sobre os medicamentos. Mas no meu caso em específico é complicado usar esses medicamentos. Tenho que acordar às cinco horas da manhã no abrigo e, quando durmo na minha barraca por ai, não posso ficar muito dopado. Se aparecer algum ladrão de madrugada é capaz de roubarem até a minha humilde residência sem eu perceber. Mas para quem tem essa possibilidade de acordar tarde e não se deu bem com outros medicamentos, recomendo que experimentem. Sinto que sou meio fraco para esses antipsicóticos, se fiquei muito sonolento com apenas 25mg, imaginem o que aconteceria se tomasse a dose recomendada, que é de 400mg.
    Um outro efeito negativo que notei foi em relação  as emoções. Se por um lado os pensamentos negativos e complicados foram controlados, as boas emoções também desapareceram. Estava meio robotizado, tanto fisicamente com emocionalmente, não achando graça em nada do que via e no que pensava enquanto estava sob o efeito do medicamento. Provavelmente não iria achar graça nenhuma em sair viajando por ai, nas minhas andanças, ir a um show,etc. É um dilema e dos grandes decidir se toma ou não os medicamentos, é preciso fazer uma profunda análise dos prós e contras, como já disse várias vezes, a expressão "cada caso é um caso" na esquizofrenia tem uma dimensão ainda maior.

   Por fim gostaria de dizer que não sou contra os medicamentos, já teve psiquiatra me enviando comentários pedindo para me retratar de algumas coisas do que posto. O que posto não é a verdade, não sou dono dela, apenas posto o que sinto e o que penso, é algo que gosto de fazer e muitas pessoas acham que o que posto ajuda de alguma maneira a entender esse mundo tão complicado que é a esquizofrenia.
    Gostaria também de agradecer aos grupos do facebook que autorizam o link de algumas postagens minhas. Não sei o motivo de muitos grupos lá do face proibirem a divulgação do meu blog, talvez seja por eu não ser um profissional da área de saúde, e o que já passei e pesquisei não sirvam para nada.
-obs: me desculpem alguns erros de português, algumas palavras repetidas e tals, mas, na lan house é difícil de ficar revisando o texto, pois o tempo é dinheiro nessa situação. No mais, boas festas a todo mundo, feliz natal e também feliz todos os dias de nossas vidas.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Celular LG A395 review

 
Bem, hoje eu vou falar de um assunto que não tem nada a haver com a esquizofrenia: celular. Mas aqui é assim mesmo: tudo junto e misturado! Modestamente, acho que esse blog é o mais eclético do Brasil: esquizofrenia, música, viagens, dicas de saúde, crônicas e conversa fiada.
    Aproveitando o 13º salário, resolvi, após muitas pesquisas, comprar o celular LG A395. Me conheço bem, se não gastasse a grana com o aparelho iria passar o mês inteiro comprando besteira. Foi a decisão correta, apesar de receber apenas ligações de cobradores. Na verdade o meu celular é no final das contas apenas um aparelho de MP3. Pobre como eu só liga pra polícia, SAMU, bombeiros, etc.
    Mas esse aparelho que adquiri é bem interessante, é quadrichip, então, quem quiser ligar para mim, fique a vontade, é só clicar em contatos. De preferência, não liguem na parte da manhã, pois o meu estado de ânimo neste período do dia não é dos melhores.
    Gostei muito desse celular. Fácil de mexer, bem simples mesmo. Além de ter suporte para quatro chips, ele possui uma bateria de boa capacidade(1500mHA). E, como a tela é pequena e com pouco brilho, a bateria tem uma duração razoável. Ouvindo música cerca de quatro horas por dia, a bateria só foi acabar no quarto dia. O problema foi fazer a primeira recarga de oito horas, tive que ficar "garrado" na tomada do parque o dia inteiro...  Mas creio que a bateria deva durar uns sete dias ou mais para quem usa o aparelho apenas para fazer e receber ligações.
    O celular vem com um cartão de memória de 2GB, mas o aparelho "guenta" cartão de até 8GB. O som é muito bom e alto nos fones de ouvido e também nos altos falantes, só faltando reproduzir com mais fidelidade os graves e os agudos( mas isso é coisa de ex-operador de som, por isso sou chato nessas coisas de áudio). O único senão na parte de som é que as estações de rádio não ficam com um som bom no viva voz, mas no geral o som é muito bom mesmo.
  • suporte a quatro chips e boa bateria são os destaques positivos do aparelho

    Um problema sério que achei no aparelho foi o brilho da tela e a resolução, que não são grandes coisas, dificultando ler alguma coisa no celular durante o dia em ambientes claros e na rua.Tive que ir para a sombra algumas vezes para enxergar as mensagens de texto. Navegar na internet nem com lupa...
    Estou muito satisfeito com esse celular, pois ele preenche as minhas necessidades. Há algum tempo atrás isso não acontecia. Sempre estava insatisfeito com o meu celular. Queria por que queria estar na moda do celular, o que é bem complicado, pois celular é algo que se desvaloriza com uma incrível rapidez . Cada dia é uma novidade, e o seu aparelho que custou 700 reais dentro de um mês você provavelmente não irá conseguir vendê-lo nem pela metade do preço, isso se ele estiver bem conservado. Hoje não ligo tanto para essas coisas. Claro que é bom ter um ótimo celular, o da moda e tals, desde que se tenha condições para isso. Acho que as minhas andanças estão me ensinando muita coisa...
    Então quem precisa de um aparelho simples, com poucos recursos, mas com a vantagem de ter uma boa bateria e uma boa qualidade de som, este é o celular.
  Link sobre o produto e preços está ai:
http://www.casasbahia.com.br/Celular-Desbloqueado-LG-A395-Preto-com-Quadri-Chip-Camera-1-3MP-MP3-Radio-FM-Bluetooth-Fone-e-Cartao-2GB-2198008.html
Resumindo:                                                                
-Prós:
-bateria de longa duração(1500mHA)
-som alto e de qualidade, tanto no fone de ouvido como no autofalante
-suporte a quatro chips sendo muito fácil de trocar de operadora

-Contras
-tela pequena, de baixa resolução e pouco brilho
-jogos instalados sem graça
-câmera de apenas 1.3 megapixel
-o fone de ouvido não possui microfone
-a tela não é touch, mas isso pode ser uma grande vantagem, já que os larápios contemporâneos desse mundo moderno estão cada vez mais exigentes. Então, se aparecer um elemento desses  em sua frente e se alguém ao seu lado estiver com um celular sensível ao toque, as chances de você ser roubado são bem menores, principalmente se o celular da outra pessoa for da Samsumg.

    Claro que a primeira música que coloquei no cartão de memória foi "one man's dream", do Yanni. Essa já coloquei aqui no blog. A segunda música foi "Adagio in C minor", que, para mim é uma das músicas mais relaxantes que se pode ouvir. Por falar nisso o cara vem tocar aqui no Brasil novamente, só que desta somente em São Paulo. Não percam!
http://www.ingressorapido.com.br/evento.aspx?ID=30480
-obs; juro que não trabalho para o cara, mas ele toca muito e o mais incrível, é autodidata!        


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Papai noel baixou em mim



   Então é natal. Época de reflexões para alguns, e muita comilança e bebedeira para outros. Para muitos é época de tristeza e muita deprê. Para mim é um dia como qualquer outro. Hoje em dia, talvez por causa do embotamento afetivo e outros sintomas negativos da esquizofrenia, já não fico deprimido nessa época. Mas fico um pouco de saco cheio com essas confraternizações temporárias, me soa meio falsa essas mudanças de atitudes e comportamentos por causa de uma simples data, que, como a maioria já sabe, foi inventada pela igreja cristã para também ter uma festa de fim de ano, já que as religiões pagãs da época tinham suas festividades para comemorar o fim da colheita e outras coisas mais.
    Não aguento ver os programas da TV, os especiais de fim de ano(menos o do Roberto Carlos). Aquelas músicas natalinas na harpa paraguaia são difíceis de aguentar. Até a música da Simone foi proibida de tocar em alguns shoppings. No início achei estranho, a música tem uma boa mensagem, mas, me colocando no lugar dos vendedores dos shoppings, realmente é difícil ficar ouvindo a mesma música o dia inteirinho durante um mês.

    Quando criança passa o natal na casa de parentes. Ficava a noite toda sentado no sofá, meio sem graça. Os amigos de minha avó chegavam a comentar:
    - Nossa! Parabéns, seu neto se comporta muito bem!
    A verdade é que eu estava entediado, isso sim, doido para que a festa acabasse.
    Mas guardo uma lembrança curiosa de um natal, acho de 1997. Estava na época trabalhando em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais e naquele ano tive que trabalhar em pleno dia 24 de dezembro. Para mim foi uma boa, gostava muito do que fazia, trabalhando como operador de som nas festas, shows, cavalgadas, etc. O dono da firma me incumbiu de receber o pagamento do serviço no final da festa.
    Na viagem de ida para a cidade de Governador Valadares paguei rodízio para toda a equipe, não me importava muito com dinheiro naquela época. E o fato de proporcionar um rango legal para a galera me deixava feliz.
    Já à noite a gororoba foi meio esquisita: por volta da meia noite o organizador do evento apareceu com uma panela de arroz frio com alguns pedaços de pernil que, provavelmente sobraram da ceia natalina de sua família. A galera chiou e o cara teve que comprara alguns hamburguers para matar a fome do pessoal.
Valadares é famosa pelo pico do Ibituruna, onde se pode saltar de asa delta

    A festa foi legal, com boas bandas de rock, principalmente o cover do Rolling Stones. O lugar, uma antiga açucareira desativada e cheia de cupins, estava abarrotada de gente. Muita mulher bonita, Valadares é uma cidade onde até as feias são bonitas.
    No final do evento recebi o pagamento. Não sei o que deu em mim, ao ver a galera carregando as caixas de som. Os caras podiam estar em suas casas com suas famílias, mas não, estavam trabalhando naquele serviço meio sofrido. Resolvi dar cinquenta reais para cada um que estava ralando naquele dia, como compensação de estar trabalhando naquela data.
    No dia seguinte o negócio ficou tenso na firma. O dono, ao receber a grana, me perguntou:
    - Cadê o resto do dinheiro?
    - Dei cinquenta reais para todo mundo.- respondi.
    -Mas por que?- ele perguntou, sem demonstrar muita surpresa, provavelmente já sabia da minha maluquice.
    - Ah! Foi o espírito de papai noel que baixou em mim ué!
    O dono da firma não pensou duas vezes em me mandar embora, é claro. Não voltei atrás na minha decisão e não pedi a grana de volta para os meus colegas de trabalho. Deu, tá dado. E não me arrependo do meu gesto, apesar do dinheiro não ser meu. Acho que faltou um pouquinho de compaixão do dono da firma, que tinha que fazer pelo menos um "agradozinho" para seus funcionários que trabalharam em uma data "tão importante". (para o comércio né?).
    E, para você, o que é o natal? Comente, opine e  não deixe de votar na enquete, que vai estar no lado direito do blog este mês.