quinta-feira, 7 de março de 2013

Nas ruas 03/03: como não fazer o nada?

Um domingo de sol

    Hoje, domingo, me dei o direito de não fazer nada(mas se o nada é nada, como não fazer o nada?). Nada de andanças, nada de lan house. Assim que tomei o café da manhã, peguei meu pedaço de papelão e me deitei na calçada, perto do albergue mesmo, no bairro Floresta.
    O silêncio era total, quase nenhum transeunte se avistava no local. Além de um bem-te-vi, a única coisa que se ouvia era o som de um transformador de energia elétrica, meio zoerento, desses que ficam no poste. Um silêncio quase que total, como há muito não ouvia. Aquela calmaria toda acabou de tirar as minhas dúvidas sobre o que fazer naquele domingo, e resolvi iniciar uma sessão de "silencioterapia" naquele local.
    Aos poucos, a rua próxima a essa em que faço os meus posts é ocupada por cerca de uns cem moradores de rua, ou mais. Uma Van branca se aproxima e os moradores de rua(inclusive eu), educadamente fazem uma fila, para pegar um marmitex e um copo de suco. Nada de confusão, brigas, discussões, etc. A educação e o respeito entre os moradores de rua me surpreendeu. Antes, um cara, que deveria ser o pastor, falou de Deus e fez uma oração.
    A comida era simples, mas gostosa e bem temperada. Em nenhum momento os ocupantes da Van citaram nomes ou denominações religiosas. Bem louvável a atitude dessas pessoas. O mundo seria bem melhor se as pessoas usassem a religião para fazer o bem e não para se promoverem.
    A simplicidade da comida me fez refletir: Ultimamente andava muito preocupado com coisas não tão importantes: queria uma TV LCD, um home theather com entrada hdmi, um smartphone mais moderno e outras coisas que a tecnologia meio que nos escraviza e endivida.
    Mas hoje, almoçando aquela simples e gostosa comida, mudei um pouco os meus pensamentos. Pensei na simplicadade. Gostaria de salientar que, se a pessoas tem condições financeiras, não é nada demais acompanhar a tecnologia e ter os aparelhos mais modernos. O problema é quando nos endividamos ou deixamos itens mais importantes, como a saude e alimentação, em segundo plano, para se adquirir uma tão desejada TV 3D.
    Como disse, hoje me dei o direito de não fazer nada e cultivar a simplicidade. Que ela encontre um terreno fértil para se desenvolver em mim.
     Depois do almoço, bateu aquele soninho. Esperei dar quatro horas da tarde para assistir um jogo de futebol no meu celular, que tem TV digital, que comprei na época em que queria seguir a tecnologia. Já estava até pensando em comprar um outro, pois até hoje não vi um outro aparelho ficar ultrapassado tão rapidamente como esse tal de celular. Mas hoje, mudei de ideia, se estiver tocando músicas e recebendo chamadas está de bom tamanho.
   
Adeus Minas Gerais
Oh Minas Gerais
Quem te conhece não te esquece jamais
   Provavelmente este é o último post em BH. Como sempre, a despedida é meio complicada, mas não por me despedir de uma pessoa em particular, mas, desta vez, de não mais ver minha terrinha natal. Gostei de voltar para BH, pois a última vez que estive em minha cidade foi há onze anos atrás, e, mesmo assim, estava surtado. É bom andar por ai, ainda mais ficando nas ruas, em um local onde conhecemos. É meio complicado andar em uma terra estranha. Confesso que estou com muito receio e um pouco de medo de sair andando por ai nas ruas de Vitória, pois não sei quais são os locais perigosos daquela cidadee. Já estive lá a trabalho, e mesmo assim há muitos anos atrás, quando ainda nem existia o crack.
    No próximo sábado, estarei viajando de trem para Vitória, para percorrer o Caminho do Padre Anchieta, que pensava em fazer há muitos anos atrás, antes dos surtos, mas, não sei por que, não o fazia, talvez por falta de coragem mesmo.
    Hoje não foi um bom dia. A maionese literalmente desandou na madrugada. No almoço havia comido maionese pura e, mesmo sabendo que meu estômago não se dá bem com gorduras em geral, comi uma generosa porção. Quando estou confiante demais, peco em fazer estas estrepolias. Resultado: Passei a madrugada inteira visitando o banheiro, e, numa dessas visitas, um cara pegou o meu lençol e cobertor. Para piorar ainda mais a situação, no quarto um cara roncava demasiadamente alto. Pelo volume do ronco, imaginei que o cara fosse bem gordo, mas não, era bem magrinho mesmo. Não sei se existe um motivo biológico, mas a maioria dos roncadores são bem gordos. Também já ouvi falar que geralmente as pessoas gordas tem maiores chances de se tornarem tenores. Mas esse cara foi, sem sombra de dúvida, o mais barulhento de todos esses dias em que estive no albergue. Creio que, se existir uma pesquisa sobre o assunto, ela deve indicar que um entre cada vinte brasileiros ronca. Presuponho isso pois cada quarto do albergue tem dez beliches, e todo dia havia um roncador para atrapalhar o sono da galera, uns roncando baixo, outros nem tanto.
    Após passar a madrugada visitando o banheiro, fiquei um caco de manhã. Assim que sai do albergue, fui logo para o meu cantinho no estacionamento para dormir tentar dormir um pouco De tarde comi uma maçã e duas bananas, e passei o dia inteiro tomando suco de goiaba e tomando suco de caju(olha a maldade!). A minha alimentação se baseou nisso, pois, além de meu estômago não estar aceitando muita coisa, um médico me disse que era bom ingerir esses alimentos nos casos de dessaranjos intestinais.
    Para piorar ainda mais a situação, o sol estava escaldante, algo em torno dos 35°C. A mochila estava pesada como nunca e meus passos estavam meio titubeantes. Confesso que cheguei a pensar em desitir naquele momento de ir para Vitória, pois não estou no melhor da minha forma física, e, com esse imprevisto, estava bem fragilizado. Mas, por experiência própria,(já tive duas diarreias brabas por causa da gordura) sabia que um dia seria o tempo necessário para me recuperar, e foi o que aconteceu. De tarde já estava um pouco melhor, e a temperatura havia diminuido. Passei o dia inteiro descansando no bairro de Lourdes, perto do centro. Lá é um pouco menos movimentado, não consigo descansar no centro, por causa do movimento de pessoas e carros, além de ser um pouco perigoso.
     Na volta pro albergue, quando já pensava que as coisas não podiam piorar, descubro, ao abrir a mochila, que a tampa do shampoo abriu  e melecou tudo o que havia dentro dela.  Tive que lavar a maioria das minhas roupas novamente. Enfim, não foi um bom dia, mas nem tudo são flores no caminho.

Perigos
    Após vários dias nas ruas sem maiores problemas, ocorreram duas situações de perigo, ambas na avenida dos Andradas, no centro de BH.
    Engordei dois quilos nessas minhas andanças, ou seja, não estou andando tanto assim, estou mais quieto no meu canto aqui na terrinha, e comendo muito também. Apesar de ser meio paranoico com o peso e gostar de estar pesando 83kg, não achei ruim ao ver a balança acusar que estava pesando 85kg. Esse aumento de peso pode causar a impressão que estou mais forte e intimidar os possíveis larápios mal intencionados, e creio que foi isso que aconteceu nessas duas situações.
    Na primeira, estava sentado em frente a uma loja, perto do centro de referência para moradores de rua, completamente distraido, vendo e deletando alguns videos e fotos da câmera para aumentar o espaço livre. Um cara se aproximou e ficou parado a minha esquerda, mas não dei muita atenção. Mas quando se aproximaram mais dois caras do meu lado direito me dei conta da situação. Estava meio que cercado por prováveis usuários de drogas que queriam algo para alimentarem seus vícios. Eles eram bem magros e me senti como um animal mais forte sendo rodeado por raposas e lobos. Coloquei rapidamente a câmera na minha mochila e me levantei, meio que estufando o peito. Isso foi o suficiente para intimidá-los e pude então ir embora tranquilamente. Essa situação serviu para me deixar mais alerta e não ficar dando bobeira ai com a minha câmera, que é novinha, mas não é das mais caras.
    A outra situação ocorreu na mesma avenida, próximo ao restaurante popular. Eram por volta de nove horas da manhã e, como tinha dormido mal na noite anterior, resolvi pegar um pedaço de papelão e dormir ali mesmo, apesar da intensa movimentação e dos perigos do local. Mas não tinha como pegar no sono naquele local, pois, vez ou outra, aparecia uma pessoa me observando, pronta para dar o bote em minha mochila. Estava de olhos fechados, mas alerta. Uma mulher tentou pegar a minha mochila, mas, quando senti a sua presença, abri meus olhos e a encarei. Ela, meio sem graça, disse que estava procurando um pedaço de papel.
    Logo já tinha umas cinco pessoas ao meu redor, e então me levantei. Pela aparência fisica, deveriam ser usuários de crack. Um cara chegou perto de mim e, ao ver o meu celular, disse que poderia conseguir várias pedras de crack com ele. Respondi educadamente que o aparelho estava estragado, para evitar confusão. Mas nem se passou dez minutos e o cara voltou, insistindo para ver o celular. Repeti que o celular estava com defeito, e, para não entrar em conflito com ele, fingi que também estava querendo o crack, e disse que poderia causar confusão se passasse o aparelho estragado para alguém que vendia drogas. Mas como o cara era muito chato e insistente, na terceira vez em que ele me pediu o telefone, tive que falar mais alto:
    - Já é meu irmão, vaza daqui!
    Não sou de usar esse tipo de linguagem, mas, naquele momento,  achei que era necessário falar daquele jeito para o cara e sua turma irem embora dali. E deu resultado, pois, mesmo sendo em maior número, eles, ficaram assustados com minha resposta e "vazaram". Não vale a pena, mesmo que estando super cansado, ficar dando bobeira em locais frequentados pelos usuários de crack.
    Não sou de briga, mas, se for necessário, terei que me defender, mas espero nunca ter que enfrentar essa situação, pois confio e muito no meu anjo da guarda, como disse várias vezes antes. Não falo muito de religião e crenças, para não causar conflitos, respeito a religião e a crença de cada um, e também respeito aqueles que não tem nenhuma crença.
     Mas, no geral, não posso reclamar de nada, pois até agora, nos locais onde costumo ficar, não fui importunado em nenhum momento. Como disse antes, os moradores de rua até agora me respeitaram muito, assim como eu respeito eles, sei que a maioria não está ali por que querem.
-obs: gostaria de pedir desculpas novamente pelos prováveis erros de português, e por não poder fazer um texto mais elaborado. Uma coisa é postar em nossas casas, na maior tranquilidade. Postar em uma lan house é um pouco complicado, ao vermos o contador na telinha indicando os minutos se passando. Poderia escolher a melhor palavra para o texto, colocar mais links, etc. Mas, por enquanto, vou ter que postar assim mesmo, sem ter que me importar com certos detalhes. Até a próxima, quem sabe em Vitória ou em outra cidade.

6 comentários:

  1. Só posso te desejar todo sucesso na sua nova empreitada. Cuide-se e fique bem. Tomara que encontre o que tanto procura. Grande abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Hulk, estou agora na cidade de Vila Velha, em Barra de Jucu, andei muito hoje, mas foi bom. Caminhar eleva o espirito, estou me sentindo bem, espero que o seu tratamento também esteja dando resultado.

      Excluir
  2. você não escreve mal não cara... escreve muito bem, e muito melhor que muita gente da minha faculdade... sério... rsrsr... Ow, essas ruas são muito perigosas né?! Como você fez a analogia com as raposas, parece mesmo uma selva com leões, e outros predadores...

    Caio Rafael

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Verdade Caio, ainda bem que já conheço BH e sei os lugares perigosos. Agora está sendo um pouco complicado andar pelo Espirito Santo, mas até agora está indo tudo bem. Obrigado por visitar o blog.

      Excluir
  3. OLA ,GUERREIRO ,PARABENS PELA SUA INICIATIVA ATRAVEZ DO SEU BLOG TENHO CERTEZA QUE ESTA AJUDANDO MUITAS PESSOAS ,TANTO OS PORTADORES DA ESCRIZOFENIA COMO TBM OS FAMILIARES Q CONVIVEM COM ELES ! GOSTARIA QUE VC ME RESPONDESSE SE VC FALAVA OU FALA MUITO SOZINHO ?? MEU FILHO TEM ESCRIZOFENIA DESDE 17 ANOS MAIS INFELISMENTE SO TIVEMOS O DIAGNOSTICO DA ESCRIZOFENIA A 3 ANOS , ANTES DISSO ELE SURTOU UMAS 4 VEZES ,LEVAMOS EM PISICOLOGOS MAIS FALAVAM Q ERA DEPRESSAO ,SINDROME DO PANICO TRANSTORNO BIPOLAR ,AUTISTA .CADA UM FALAVA UMA COISA ,MAIS DEPOIS DE MUITO CORRER ATRAZ ENCONTRAMOS UM BOM PISCIQUIATRA E O RESULTADO FOI ESCRIZOFENIA , APESAR DE ESTAR FAZENDO TRATAMENTO A 3 ANOS ,TOMANDO TODA A MEDICACAO PRESCRITA , ELE TEVE MELHORA ,DIZ QUE NAO OUVE MAIS AS VOZES ,MAIS CONTINUA SE ISOLANDO E FICA FALANDO O TEMPO TODO ,SO PARA QD CONSEGUE DORMI , E OLHA Q MESMO COM A MEDICACAO ELE DORME POUCO , E DORME DE CANSACO DE TANTO FALAR ,DORME FALANDO E ACORDA FALANDO , ELE RECLAMA MUITO DE DOR NA GARGANTA , DEVE SER AS CORDAS VOCAIS DE TANTO FALAR NE , ! ELE DIZ Q NAO TEM NOCAO NENHUMA QD TA FALANDO E NEM SABE QUE TA FALANDO , EU JA NAO AGUENTO MAIS ISSO , NEM TRABALHO P CUIDAR DELE ,MAIS TA INSUPORTAVEL FICAR OUVINDO A SALADA DE FRUTA DELE 24 HRS P DIA , ESTOU QUASE FICANDO LOUCA , AGORA ELE ESTA COM 26 ANOS NAO QUER SAIR DO QUARTO E FALA SEM PARAR O TEMPO TODO ! JA FAZ MESES Q ESTA ASSIM , E O MEDICO COMECOU A DAR INJECAO TBM ,MAIS PARECE Q TA E PIORANDO A SITUACAO , MORO NO JAPAO , POR FAVOR ME RESPONDA VC JA PASSOU POR ESSE SINTOMA DE FALAR O TEMPO TODO ???? MESMO SEM OUVIR AS TAIS VOZES ?? ELE FALA COISA BOA ,COISA RUIM ,FICA DANDO ORDENS O TEMPO TODO PRA ELE MESMO !! desde ja te agradeco ,aqui e uma mae aflita !!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, muito obrigado por seguir o blog. Eu falava e ainda falo sozinho, mas é pouco, só quando estou distraido nos meus pensamentos. Quando estava surtado, a minha mente não parava um minuto sequer, mas eu não exteriorizava isso, e me deixava muito cansado, como se o meu cérebro estive dividido em dois, e ficavam dialogando em minha cabeça várias pessoas e eu. Foi complicado mas passou. Gostaria de poder ajudar em alguma coisa, mas cada caso é um pouco diferente do outro. Ai no Japão você tem acesso aos medicamentos mais modernos?

      Excluir